Carrapatos em movimento: como as mudanças climáticas aumentam o risco de doença de Lyme e outras doenças

Em um campo montanhoso em Montana, o biólogo Grant Hokit arrasta um pano de flanela branca sobre arbustos e grama. Pode parecer de baixa tecnologia, mas esta é a linha de frente de uma batalha crucial de saúde pública. Ele está caçando carrapatos, e o que encontra — ou não — tem sérias implicações para médicos e moradores de todo o país.

Um crescente conjunto de evidências mostra que os carrapatos estão expandindo seu território, trazendo doenças perigosas como a doença de Lyme para regiões que antes nunca precisaram se preocupar com eles. Essa migração é impulsionada pelas mudanças climáticas, e nossos sistemas de saúde pública estão tendo dificuldades para acompanhar a ameaça crescente.

Uma fotografia de perto de um carrapato da Floresta das Montanhas Rochosas agarrado a uma folha alta de grama.

Por que os carrapatos estão se espalhando: um mundo mais quente

O principal fator por trás da migração de carrapatos são as mudanças climáticas. À medida que a atividade humana aquece o planeta, os invernos estão se tornando mais curtos e amenos. Isso tem dois efeitos principais nas populações de carrapatos:

  1. Menos tempo de hibernação: os carrapatos passam menos tempo dormentes e têm meses mais ativos para se alimentar e se reproduzir.
  2. Habitats expandidos: temperaturas mais altas permitem que os carrapatos sobrevivam e estabeleçam populações nos estados do norte e em altitudes mais elevadas, onde antes era muito frio.

Isso significa que os carrapatos têm mais tempo para pegar carona em animais e pessoas, carregando patógenos com eles à medida que se movem para novos territórios.

Um novo perigo chega: o carrapato do veado e a doença de Lyme

A chegada de novas espécies de carrapatos é um grande sinal de alerta para as autoridades de saúde. No início deste ano, Hokit encontrou carrapatos de veado pela primeira vez no nordeste de Montana. Esta é uma descoberta significativa porque o carrapato de veado (também conhecido como carrapato de patas pretas) é o principal transmissor da doença de Lyme, a doença transmitida por vetor mais comum nos Estados Unidos.

Saber que uma espécie como o carrapato do veado chegou é uma informação crucial para médicos e moradores locais que podem não estar acostumados a procurar sinais da doença de Lyme.

O dilema do médico: diagnosticando um alvo em movimento

Quando uma nova doença transmitida por carrapatos entra em uma região, ela cria um desafio diagnóstico para os médicos. O Dr. Neil Ku, especialista em doenças infecciosas, observa que os pacientes raramente associam seus sintomas a uma picada de carrapato anterior.

“Eles geralmente aparecem mais tarde, quando começam a se sentir mal”, disse ele. Os sintomas iniciais costumam ser vagos e semelhantes aos da gripe: febre, calafrios e mal-estar geral.

Sem saber que carrapatos transmissores de doenças estão presentes na área, um médico pode não pensar em testar para uma doença específica transmitida por carrapatos, levando a diagnóstico e tratamento tardios. A vigilância local precisa de carrapatos fornece aos médicos as informações necessárias para fornecer um atendimento melhor.

A lacuna na vigilância: por que estamos voando às cegas

Um homem segura uma vara longa com um pano preso na ponta. Ele a pendura entre arbustos em uma trilha na floresta para pegar carrapatos.

Infelizmente, o tipo de vigilância ativa e local de carrapatos que a Hokit realiza não está acontecendo em todos os lugares. Uma pesquisa de 2023 constatou que apenas cerca de um quarto dos departamentos de saúde locais em todo o país realizam algum tipo de vigilância de carrapatos.

Muitos departamentos adotam uma abordagem “passiva”, na qual identificam carrapatos enviados pelo público. Embora útil, esse método não fornece uma imagem clara da frequência de carrapatos ou da porcentagem de portadores de doenças. A principal barreira é o financiamento — pesquisas de campo são caras e os subsídios federais para saúde pública estão se tornando escassos. Essa lacuna de financiamento significa que muitas vezes não temos conhecimento de novas populações de carrapatos até que as pessoas comecem a adoecer.

Como se proteger de doenças transmitidas por carrapatos

À medida que os carrapatos se espalham para novas áreas, a prevenção pessoal é mais importante do que nunca. Siga estas etapas para se manter seguro:

  • Antes de sair ao ar livre:
  • Use um repelente de insetos registrado pela EPA que contenha DEET, picaridina ou óleo de eucalipto-limão.
  • Trate roupas e equipamentos com produtos que contenham 0,5% de permetrina.
  • Use roupas de cores claras para facilitar a localização dos carrapatos.
  • Ao ar livre:
  • Mantenha-se no centro das trilhas e evite caminhar por grama alta e arbustos.
  • Depois de entrar:
  • Verifique se há carrapatos em todo o corpo, prestando muita atenção nas axilas, no couro cabeludo, atrás dos joelhos e na região da virilha.
  • Verifique se há carrapatos em suas roupas, equipamentos e animais de estimação. Seque as roupas em temperatura alta por 10 minutos para matar quaisquer carrapatos escondidos.
  • Tome banho dentro de duas horas após entrar em casa para ajudar a remover os carrapatos soltos.
  • Se você encontrar um carrapato:
  • Use uma pinça de ponta fina para agarrar o carrapato o mais próximo possível da superfície da pele.
  • Puxe para cima com pressão constante e uniforme. Não torça nem sacuda o carrapato.
  • Após remover o carrapato, limpe a área da picada e suas mãos com álcool isopropílico ou água e sabão.
  • Fique atento a sintomas como erupção cutânea, febre ou fadiga nas semanas seguintes à picada e consulte um médico se eles surgirem.